27 de janeiro de 2011

Eternamente responsável...

Ainda lembro, eu era pequena, devia ter por volta dos oito ou nove anos, mas ainda lembro... Meu pai, sempre do jeito surpreendente dele de me ensinar sobre as verdades da vida e do mundo chegou à minha frente e disse: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!" com um ar imponente e acolhedor.

Na hora fiquei sem entender o porquê dele me dizer aquilo sem mais nem menos, mas era meu pai, e ele sempre fora assim, então resolvi não contrariar. Me resumi a perguntar: - como assim?

E ele, já me conhecendo tinha consigo um exemplar de O pequeno príncipe, que me entregou e me disse para ler, e só depois que eu tivesse lido tudinho ele me explicaria. Claro que não compreendi o sentido daquela coisa toda de "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" aos nove anos, tive que reler ele na adolescência e também já na fase adulta, e creio que voltarei a ler quando a vida achar que seja necessário... enfim!

Foi uma das coisas mais bonitas que me aconteceu na vida, junto a tantas outras recordações que tenho do meu pai, da minha mãe e da minha infância extremamente lúdica... canceriana que sou!

Na teoria aprendi o que era o amor lendo esse livro, na prática descobri como se pode sentir ele de forma plena através da minha filha. E hoje percebo o quanto o amor entre pais e filhos é incondicional mesmo quando não temos maturidade para reconhecer isso.

Deixo vocês, amigos leitores, com o trecho do livro de Exupery que mudou minha forma de ver a vida já tão cedo. E deixo aqui também - já não tão inocente quanto o principezinho nem tao esperta quanto a raposa - o sincero agradecimento a meus pais... por tudo... e à minha filha... por tudo e mais um pouco!

"E foi então que apareceu a raposa:

- Boa dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços? 

24 de janeiro de 2011

Deus é naja

Estás desempregado? Teu amor sumiu?
Calma: sempre pode pintar uma jamanta na esquina.

Tenho um amigo, cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos há muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.

Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele - humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou essa: -"Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim..." Descemos o elevador rindo feito hienas.

Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas. Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: -"Por favor, preciso de uma jamanta às 20h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque estará no bolso esquerdo da calça". Às 20h14, na tal esquina (uma ótima esquina é a Franca com Haddock Lobo, que tem aquela descidona) , você olha para esquina de cima. E lá está- maravilha! - parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem um dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: -"Morro feliz. Era tudo que eu queria..."

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo. Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" – ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humour?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.

Segure seu humor. Seguro o meu, mesmo dark: vou dormir profundamente e sonhar com uma jamanta. A mil por hora.

(Das Pequenas Epifanias de Caio F. Abreu - originalmente publicado no Estado de São Paulo em 15 de julho de 1986.)

21 de janeiro de 2011

Resta Um

Gottfried von Leibniz, filósofo e matemático alemão, numa carta de 1716, exaltava as virtudes de um passatempo que tem atravessado os séculos e, ainda hoje, continua despertando o interesse, tanto do jogador ocasional, disposto a matar meia-hora agradavelmente, quanto do estudioso, mais interessado em descobrir as leis que governam suas soluções. Seu nome é Solitaire (solitário), mas é muito mais conhecido no Brasil como Resta Um.

Sua origem é um quebra-cabeça à parte, repleto de peças que não se encaixam bem. Uma das histórias não confirmadas, porém das mais difundidas, diz que ele foi inventado por um prisioneiro encarcerado numa solitária da Bastilha, como lenitivo para seu tédio.
De uma coisa temos certeza: o tabuleiro utilizado no Solitaire é muito semelhante a outro usado em jogos mais antigos, como por exemplo o medieval Raposa e gansos e, com toda a probabilidade, evoluiu a partir dele.

Seja como for, o século XVIII já assistia à sua extraordinária difusão pela Europa. Modernamente, distinguimos dois tabuleiros de Solitaire: o inglês e o francês. Este último apresenta, em relação ao primeiro, quatro casas a mais. O inglês, tradicionalmente, é trabalhado numa única peça circular de madeira, na qual se fazem 33 concavidades e um sulco ao longo da borda.

Clássico Resta Um inglês
 Neste modelo, utilizam-se bolas de gude como peças e o sulco se destina à colocação das bolas capturadas. O modelo francês é usualmente composto de um quadrado perfurado, onde se introduzem pinos de madeira.

Embora seja muito fácil encontrar no comércio jogos de Solitaire de variados tamanhos, aspectos e preços, bastará ao leitor o diagrama e mais 32 grãos de feijão para se iniciar nos mistérios desse passatempo, que Leibniz recomendava como boa forma de exercitar o raciocínio. (*)


Quando eu era criança simplesmente adoraaaava esse jogo... e como faz muito tempo que não jogava ele resolvi pôr um gadget aqui no Chá pra que todos possamos matar o tempo (e a saudade) desse jogo tão antigo quanto legal!
Bem... o objetivo do jogo um tanto óbvio é pular um pino por cima de outro até que reste apenas um!
Instruções:
1. Para iniciar o jogo, clique em uma peça (são esses pontinhos vermelhos) que você gostaria de remover.
2. Você pode eliminar as demais peças do tebuleiro saltando sobre elas, como em um jogo de damas. Um detalhe importante é que esta é a única forma de movimentar as peças no jogo.
3.Continue saltando com as peças até que reste apenas uma!
E boa sorte!!!





(*)Vi na Super Interessante de abril de 1990.

12 de janeiro de 2011

O minimalismo e alguns cartazes de clássicos do cinema

Provavelmente você já deve ter ouvido falar do minimalismo, ou então já se deparou com alguns exemplos desse movimento que (contrapondo-se ao expressionismo) procura expressar-se artísticamente através de formas simples, buscando sempre ser uma linguagem que possa ser compreendida de forma universal.
Em diversas artes podem ser encontrados representantes do minimalismo... na repetição do punk rock, em algumas histórias de Hemingway ou nas criações pra lá de irreverentes de Philippe Starck.

Segue abaixo alguns cartazes minimalistas de clássicos do cinema hollywoodiano que encontrei navegando pela rede mundial, porém, infelizmente não sei de quem é a autoria. 
Se alguém souber por favor deixa um comentário pra eu dar os créditos a quem merece. 

Pra esse post ficar mais legal não vou colocar o nome dos filmes na legenda, pois a graça está justamente em descobrir através de pouquíssimos signos a que filme cada cartaz pertence!
Abaixo de todos os cartazes tem a listinha completa de respostas pra você conferir quantos acertou!
Divirta-se!!!


6 de janeiro de 2011

Como fazer coisas... rapidamente!

Olha só que legal esse vídeo que achei!
São dicas, ou melhor, técnicas de como fazer coisas do dia-a-dia de forma muito mais rápida que estamos acostumados a fazer normalmente.
Com exceção da forma de estacionar o carro (pela minha falta de coordenação) vou tentar a maioria!

5 de janeiro de 2011

Os monstros que moram em um post-it

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Esse carinha simpático aí é John Kenn, um dinamarquês de 32 anos que escreve e dirige programas infantis para a televisão. Fora a profissão dele ser super legal até agora nada de extraodinário...


Mas Kenn (assim como muitos de nós) tem um hobby: em seu tempo livre gosta de desenhar.
Ele faz ilustrações de monstros e outras criaturas fantásticas (e simpáticas!) que geralmente estão tentando fazer contato (nem sempre amigável...) com algum humano. O legal meeeesmo disso tudo é que os desenhos de Kenn são feitos em post-it. Sim, aqueles pequeninos papéizinhos que a gente cola por aí com lembretes - geralmente pra nós mesmos! Confere aí embaixo algumas das criações desse dinamarquês prá lá de talentoso!

1 de janeiro de 2011

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-à-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
que seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo,
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)