Ainda lembro, eu era pequena, devia ter por volta dos oito ou nove anos, mas ainda lembro... Meu pai, sempre do jeito surpreendente dele de me ensinar sobre as verdades da vida e do mundo chegou à minha frente e disse: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!" com um ar imponente e acolhedor.
Na hora fiquei sem entender o porquê dele me dizer aquilo sem mais nem menos, mas era meu pai, e ele sempre fora assim, então resolvi não contrariar. Me resumi a perguntar: - como assim?
E ele, já me conhecendo tinha consigo um exemplar de O pequeno príncipe, que me entregou e me disse para ler, e só depois que eu tivesse lido tudinho ele me explicaria. Claro que não compreendi o sentido daquela coisa toda de "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" aos nove anos, tive que reler ele na adolescência e também já na fase adulta, e creio que voltarei a ler quando a vida achar que seja necessário... enfim!
Foi uma das coisas mais bonitas que me aconteceu na vida, junto a tantas outras recordações que tenho do meu pai, da minha mãe e da minha infância extremamente lúdica... canceriana que sou!
Na teoria aprendi o que era o amor lendo esse livro, na prática descobri como se pode sentir ele de forma plena através da minha filha. E hoje percebo o quanto o amor entre pais e filhos é incondicional mesmo quando não temos maturidade para reconhecer isso.
Deixo vocês, amigos leitores, com o trecho do livro de Exupery que mudou minha forma de ver a vida já tão cedo. E deixo aqui também - já não tão inocente quanto o principezinho nem tao esperta quanto a raposa - o sincero agradecimento a meus pais... por tudo... e à minha filha... por tudo e mais um pouco!
"E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?